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13/01/2023 às 14h32min - Atualizada em 13/01/2023 às 14h32min

81% dos brasileiros desaprovam vandalismo de 8 de janeiro em Brasília, diz pesquisa Ipsos

Na pesquisa Datafolha, 93% condenam ataques

Imagem: Reuters

As invasões e depredações nas sedes dos Três Poderes por bolsonaristas no domingo (8) são desaprovadas por 81% dos brasileiros, segundo uma pesquisa feita pela empresa de análise de opinião Ipsos. Entre os outros 19%, 9% aprovam totalmente a ação dos manifestantes e 9% aprovam apenas em parte. Um por cento das pessoas não souberam responder.

Feita na terça seguinte aos eventos (10), com amostragem nacional, a pesquisa entrevistou 600 pessoas de todas as regiões do Brasil pela internet e tem margem de erro de 4 pontos para mais ou para menos.

Apesar dos resultados majoritariamente mostrarem uma desaprovação à violência de domingo, não é possível fazer uma leitura de que existe consenso contrário ao radicalismo, explica Hélio Gastaldi, diretor de relações públicas da Ipsos.

"Se olharmos os outros dados da pesquisa, fica muito evidente que o cenário ainda é de polarização. Por exemplo, o número de pessoas que aprovam os eventos ao todo ou em parte — 18% — sobe para 37% entre os entrevistados que votaram em Bolsonaro", diz Gastaldi.

Embora a maioria (62%) considere que o ataque às instituições foi planejado com antecedência para ser exatamente como foi, 28% dos entrevistados acreditam que os eventos foram planejados para serem uma manifestação pacífica, mas acabaram saindo do controle.

"(28%) É número que pode ser considerado alto de pessoas que têm um pensamento que, na melhor da hipóteses, exime os envolvidos de responsabilidade", diz Gastaldi.

Isso se reflete também em outro dado — quando questionados sobre quem deve ser punido pelos eventos de domingo, 41% responderam que devem sofrer consequências "somente os que comprovadamente cometeram alguma violência e depredação". Outros 51% acreditam que todos os envolvidos devem ter punição.

O quanto o bolsonarismo foi afetado

Para Gastaldi, a rápida e intensa condenação dos eventos por autoridades de outros países e a repercussão negativa na mídia internacional fizeram com que haja um clima que inibe as pessoas de demonstrarem aprovação.

"Isso provocou uma inibição em grande parte de pessoas que aprovam de maneira latente, mas não tiveram coragem de admitir", diz o diretor da Ipsos. Por isso os dados gerais de desaprovação são de 81%, afirma.

"Mas se você olha em detalhes, vê que, quando a radicalização acontece, Bolsonaro perde apoio em setores mais distantes dele. Mas ele ainda mantém boa parte do apoio e o núcleo duro do bolsonarismo não se reduz."

Para 70% dos entrevistados, Bolsonaro é responsável pelos eventos do domingo, mas 47% acham que ele foi responsável apenas em parte.

E 26% dos entrevistados afirmam que o ex-presidente não tem culpa — em vez disso, colocam a culpa no presidente Lula (22%) , no STF (26%) e no TSE (25%).

É um número que corresponde quase aos 28% de pessoas que, mesmo sem evidências, acreditam que "pode ter havido algum tipo de fraude nas eleições que pode ter favorecido Lula".

"Pode parecer um número tolerável, mas é um percentual extremamente alto de pessoas que de certa forma não vê legitimidade nas eleições", afirma Gastaldi.

Datafolha: 93% condenam ataques golpistas, e maioria defende prisões

A imensa maioria dos brasileiros repudia os ataques golpistas ao coração dos três Poderes em Brasília, realizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no domingo passado (8). Segundo o Datafolha, 93% são contra a ação, enquanto 3% se dizem favoráveis a ela.

O instituto ouviu 1.214 pessoas com mais de 16 anos, ou seja, aptas a votar, na terça (10) e nesta quarta (11), em pesquisa telefônica por todo o Brasil. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.

Dos entrevistados, 2% se disseram indiferentes à depredação ocorrida no Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e Congresso Nacional. Não soube dar opinião 1%. A totalização dos dados não chega a 100% porque há arredondamentos.

A ação dos baderneiros foi um dos mais graves incidentes, se não o maior, desde a redemocratização do Brasil após o fim da ditadura militar em 1985. Milhares de apoiadores de Bolsonaro, muitos recém-chegados a Brasília de outros estados, se uniram a acampados em frente ao Quartel-General do Exército para marchar rumo à praça dos Três Poderes e depredar.

A depredação das sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário tinha uma motivação: impedir que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que derrotou Bolsonaro em outubro, governe. O petista havia tomado posse uma semana antes, e o ex-presidente estava na Flórida, após recusar-se a participar da passagem de poder.

O incidente teve ampla repercussão: 96% dos entrevistados disseram ter conhecimento do ocorrido. Desses, 43% dizem estar bem informados sobre os fatos, 41%, mais ou menos cientes e 12%, com pouca informação. O restante da amostra, 4%, disse desconhecer o episódio.

Há homogeneidade na condenação da barbárie ao longo dos estratos socioeconômicos apurados pelo Datafolha, com uma exceção notável: 10% dos que se declaram eleitores de Bolsonaro, o inspirador da ideia golpista de rejeitar o resultado da eleição de outubro passado, aprovaram a violência e o vandalismo.

O ex-presidente chegou a se manifestar a partir dos Estados Unidos de forma algo oblíqua, em rede social, dizendo que violência não seria algo dentro "da regra", não sem antes acusar a esquerda de fazer o mesmo em outras ocasiões.

Segundo o Datafolha aferiu, 46% dos brasileiros acham que todos os envolvidos nas depredações têm de estar presos. Para 15%, a maioria deveria, e 26% acham que só alguns. Para 9%, ninguém deveria estar detido e 4% dizem não saber.

Cerca de 1.500 pessoas foram detidas, muitas já liberadas, e novas prisões seguem sendo feitas a partir de determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que coordena inquéritos contra fake news e atos antidemocráticos a partir de ameaças feitas a integrantes da corte.

O punitivismo é maior entre aqueles que têm ensino fundamental: 54% querem ver todos presos. De forma previsível, entre aqueles que se declaram eleitores de Bolsonaro o abrandamento é mais pronunciado —48% acham que alguns devem ser presos e 17%, que ninguém deve ir para a cadeia.

Já a expectativa de punição pelo Judiciário é diferente. Acreditam que serão punidos 77% dos ouvidos, 42% deles esperando uma pena dura e 35%, uma branda. Já acham que nada ocorrerá aos criminosos 17%, enquanto 6% disseram não saber.

Aqui, parece fazer valer a fama de implacável de Moraes, que tem agido de forma dura contra aqueles que atentam contra a democracia, atraindo críticas acerca do que é visto como uma ação arbitrária e que margeia o abuso de poder.

Ele, referendado pelo plenário do Supremo em suas ações, rejeita a pecha. Desde que os vândalos entraram em ação, tem reiterado que a eles será dispensado o rigor da lei. Mandou prender na esteira do caso o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, além do ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal.

O papel dos financiadores do transporte e dos acampamentos que alimentaram os atos também é visto como alvo. Para 77%, esse grupo deveria ser preso, enquanto 18% acham que não. Outros 5% dizem não saber. Entre eleitores de Bolsonaro, a taxa cai a 56% que pregam punição e 37%, que não.

Os primeiros depoimentos dos golpistas presos indicam que muitos deles tiveram passagem e alimentação paga por terceiros para estar no acampamento brasiliense, desmontado na segunda (9) assim como outros similares pelo país, também por ordem de Moraes. O caminho de seguir o dinheiro é linha clássica de apuração daqui em diante.

Na semântica da crise, o Datafolha quis saber como os eleitores viam os manifestantes do domingo. Para 18%, eles são vândalos, enquanto 15% adotaram a expressão adotada por autoridades dos três Poderes em diversas entrevistas coletivas: terroristas.

Outros 7% os chamam de irresponsáveis e variantes do termo, 5%, de criminosos ou bandidos, 3%, de loucos/malucos/assemelhados.

Nesta quarta, o presidente Lula usou uma variante deste último termo: alopradas, que aliás remete a um escândalo de sua primeira gestão no Planalto, em 2006, quando ele assim se referiu a uma dupla que buscou comprar um dossiê falso contra o então candidato tucano ao governo paulista, José Serra.

Grupos de 2% os veem como vagabundos, um epíteto comum entre bolsonaristas ao se referirem a adversários, vergonhosos, burros/ridículos, ignorantes/irracionais. Já 30% deram outras respostas e 8%, não se manifestaram.

Fonte: BBC News/Datafolha

 

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