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12/01/2023 às 11h20min - Atualizada em 12/01/2023 às 11h20min

Como o Peru pode voltar à paz?

Mais de 40 morreram em protestos contra o governo no país

Foto: Juan Carlos Cisneros/AFP

Deutsche Welle - A presidente do Peru, Dina Boluarte, está há menos dias no cargo do que o número de pessoas que já morreram na atual onda de protestos que abala o país. Pouco mais de um mês depois de a ex-vice-presidente ter assumido o posto mais alto da nação, o Peru contabiliza mais de 40 mortos e centenas de civis gravemente feridos em protestos contra o governo.

Boluarte assumiu o cargo em 8 de dezembro de 2022, depois que o então presidente Pedro Castillo, eleito em junho de 2021, tentou dissolver o Parlamento e foi preso sob a acusação de golpe de Estado. Desde então, o país vive um caos. Os confrontos mais sangrentos até agora ocorreram na segunda-feira (09/01) na cidade andina de Juliaca, com 18 mortos, incluindo um policial. Quase todas as vítimas são de ascendência andina e de origem indígena.

Boluarte será acusada de genocídio?

Para o Ministério Público do Peru, há motivos suficientes para iniciar investigações sobre supostos "genocídios, homicídios dolosos e lesões corporais graves" contra Boluarte, o primeiro-ministro Alberto Otárola e outros membros do gabinete. É a segunda investigação contra a chefe de Estado por mortes durante protestos.

Otárola apoia de forma explícita as forças de segurança, que, segundo ele, garantiram "a ordem pública durante o estado de emergência". O governo não age de forma autoritária, mas tampouco se deixa pressionar pela violência.

Dina Boluarte discursa

Dina Boluarte discursa

Dina Boluarte discursa

Dina Boluarte discursa

Boluarte assumiu como presidente há um mês, quando seu antecessor, Pedro Castillo, foi presoFoto: Martin Mejia/AP Photo

Observadores pedem punição dos responsáveis

Johanna Pieper, do Instituto Alemão Giga de Estudos Latino-Americanos, de Hamburgo, tem uma visão diferente: "As forças de segurança não estão cumprindo a lei", disse em entrevista à DW.

Raúl Tecco, gerente de projetos da Fundação Friedrich Ebert, de Lima, pensa da mesma forma: "Os órgãos de aplicação da lei estão agindo de forma inadequada e desproporcional". Ele vê a responsabilidade por isso em um nível superior: "Um soldado não atira sem o apoio de seus superiores".

Observadores políticos e organizações de direitos humanos consideram que os eventos devam ser tratados legalmente. Robert Helbig, chefe do escritório internacional da Fundação Konrad Adenauer no Peru, disse à DW que os responsáveis ​​pelos excessos devem ser identificados e responsabilizados para evitar um clima de impunidade.

Política peruana em apuros

A situação no Peru é complicada. O presidente deposto Pedro Castillo começou a campanha eleitoral como um estranho e derrotou, por pouco, a conservadora Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori.

O que ajudou Castillo a vencer a eleição foi, provavelmente, menos sua orientação esquerdista – que para grande parte da população peruana ainda está muito ligada aos anos de terror da guerrilha marxista-leninista – e mais ao desejo de um presidente fora do sistema político. Essa pode ser justamente uma das razões pelas quais Castillo lutou para estabelecer um governo funcional. Isso acabou levando a uma ruptura entre o presidente e o Parlamento.

Sua sucessora constitucional, Boluarte não herdou uma tarefa fácil: depois que rompeu com Castillo, ela luta por apoio nos partidos de esquerda e, ao mesmo tempo, não pode esperar muito da direita. E o que o povo pensa dela se reflete nas ruas das grandes cidades.

Policiais com armas nas ruas

Policiais com armas nas ruas

Policiais com armas nas ruas

Policiais com armas nas ruas

Protestos na cidade andina de Juliaca foram os mais sangrentos até agoraFoto: Hugo Courotto/REUTERS

Como a situação pode se acalmar?

Para Johanna Pieper, a única forma de acalmar a situação no país é se Boluarte reconhecer os erros e dialogar com os manifestantes. Em todo caso, segundo Pieper, a renúncia não é uma solução, pois, se o fizer, o ainda menos popular presidente do Congresso, José Williams Zapata, teria a tarefa de governar o país. Pieper também não considera as eleições antecipadas – atualmente marcadas para abril de 2024 – uma solução viável.

"Por razões logísticas e organizacionais, as eleições não podem ser antecipadas. Também existe o risco de a oferta política ser a mesma das eleições de 2021", pondera.

Tecco, da Fundação Friedrich Ebert, vê as coisas de maneira diferente. Para ele, se o Congresso conseguir estabelecer um governo interino, novas eleições poderão ser realizadas em três meses. No entanto, isso requer muita vontade política.

Helbig concorda: "São necessários gestos políticos convincentes tanto do Executivo quanto do Legislativo que mostrem empatia e solidariedade com os mortos para acalmar a mente das pessoas".

Se os políticos conseguirem levar a sério as reivindicações dos manifestantes e colocar seus interesses pessoais por trás dos interesses do país, o Peru poderá encontrar a paz em breve.

Fonte: DW Brasil


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