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21/11/2022 às 16h34min - Atualizada em 21/11/2022 às 16h34min

Simone Tebet fala sobre corte de despesas e reformas

A senadora diz ser importante debelar a ascendência da extrema direita sobre a população

Crédito: Gabriel Reis

IstoÉ - A sinergia de Simone Tebet com Lula no campo do desenvolvimento social não comprometeu a identidade política da senadora. Integrante do governo de transição, a sul-mato-grossense, árdua defensora do Bolsa Família, mantém afiado o discurso pró-responsabilidade fiscal, lista ponderações sobre a solução simplória de rompimento do teto de gastos para o cumprimento de promessas de campanha e diz “sentir falta” de uma posição incisiva do PT pelo corte de despesas supérfluas e pela aprovação das reformas tributária e administrativa para a recuperação econômica. Alarmada com os atos antidemocráticos que tomaram o País desde as eleições, a emedebista acrescenta que, tão importante quanto combater a fome e colocar o Brasil de volta na rota de crescimento, será debelar a ascendência da extrema direita sobre a população. Partidos de centro, diz a senadora, estarão à frente das trincheiras. “É um trabalho de reconstrução que não pode ser feito pelo PT ou pela esquerda. Para dar legitimidade ao processo, para a sociedade brasileira ouvir, esse trabalho tem que ser feito pelo campo democrático do centro”, completa a senadora em entrevista à ISTOÉ.

Lula afirma que a política social não é apenas a transferência direta de renda. Como será o programa de inclusão do próximo governo?
Temos dois grandes relatórios a entregar: um até dia 30 de novembro, com o diagnóstico parcial do cenário, e outro até 12 de dezembro, com sugestões. O que há de sinergia? Nenhuma família pode passar fome no Brasil. Sabemos que o Auxílio Brasil foi um programa mal gestado e eleitoreiro que destruiu o CadÚnico. O sistema terá de ser recuperado, porque é ele que identifica, por meio de análises de perfis, quem está abaixo da linha da miséria, quantos são, em qual faixa do programa podem ser incorporados. O Bolsa Família volta com as condicionantes, sendo eficiente, e vai para as pessoas que mais precisam.

 Mas o Bolsa Família será combinado com quais outros programas?

É prematura essa conversa. Qualquer declaração minha deixaria de ser uma posição de um grupo de trabalho para representar uma voz única. Claro que temos programas que não pensamos jamais em extinguir, como o Criança Feliz, o Inclusão Produtiva Rural, o Progredir. Mas, se o projeto vai ter outro nome e se os programas serão unificados ou ampliados, depende do diagnóstico do grupo de trabalho.

O mercado não reagiu bem à sinalização da PEC que tira integralmente o Bolsa Família do teto e abre espaço para outras despesas, ao custo de R$ 175 bilhões. Lula errou na largada?
Creio que a reação não está vinculada ao fato de Lula ter dito que o valor a mais do Bolsa Família ficará fora do teto. Isso já foi precificado pelo mercado lá atrás. Acho que foi mais pelo contexto da fala (Lula questionou ‘por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país’). Lula estava em um discurso político para os seus. Talvez o equívoco tenha sido a reunião aberta — ela poderia ter sido fechada.

Objetivamente, qual é a preocupação?
Talvez a preocupação seja muito mais quanto à âncora fiscal que teremos para substituir o teto de gastos. Não é segredo para ninguém que o PT quer acabar com o teto, porque não concorda com esse instrumento. É por isso que tenho dito que, no tempo de Lula, o primeiro ministro indicado deve ser o da Fazenda, justamente para que ele traduza o discurso político ao mercado. Fora isso, temos que ter em mente também que quem vai aprovar a exclusão do Bolsa Família do teto, seja por um ou quatro anos, é o próprio Congresso. É o Parlamento que dosa essas ações. Há também uma preocupação com os valores, que o mercado parece considerar altos. Querem respostas. O que será garantido com a retirada dos R$ 175 bilhões do teto? É só o Bolsa Família? Entra o reajuste do salário mínimo acima da inflação, o reforço da Farmácia Popular e o acréscimo de recursos para a merenda escolar?

 Retirar o Bolsa Família do teto por quatro anos, como quer Lula, pode resultar numa bomba fiscal?

Depende, Sinto falta dessa discussão. Todo mundo fala de gastos, mas não menciona cortes de despesas desnecessárias ou reformas estruturantes. Estamos falando da reforma administrativa e da tributária. Essa última gera crescimento. Voltando a crescer, o Brasil arrecada mais e, consequentemente, tem mais orçamento para gastar. A demora das reformas, somada ao rombo fiscal, é o que cria um clima de desconfiança e faz com que juros fiquem mais altos. E aí vira uma bola de neve. Você cria uma instabilidade política que vai chegar lá na ponta para os pobres. Não vamos esquecer que a inflação, o grande temor de todos nós, é o custo mais cruel para a população mais humilde.

Lula havia prometido pôr fim às emendas de relator. Agora, aliados dele defendem mantê-las, desde que ampliada a transparência. Prejudica o Orçamento?
A transparência, por si só, acaba com o Orçamento Secreto e com a hierarquia na distribuição de recursos. Agora, haverá uma questão de decisão política do presidente, que pode concentrar um orçamento maior em suas mãos ou compartilhá-lo. Eu, particularmente, acho que a melhor forma de resolver é usar parte dos recursos para aumentar as emendas individuais. Há a possibilidade, por exemplo, de ampliar a cota de deputados e senadores de R$ 19 milhões para R$ 25 milhões. O problema não é quanto cada Poder terá em suas mãos. Temos de assegurar que o dinheiro chegará na ponta para Saúde, Educação, Infraestrutura. Ao dar transparência, você garante que ele vai chegar. Não vai haver nota fria dizendo que houve a execução de um serviço que não foi executado.

Bolsonaro está recluso desde a derrota. A postura levanta dúvidas sobre o potencial dele na oposição?
No que se refere a fake news, influência e engajamento de atos antidemocráticos, ele perde força porque não contará com o dinheiro que usava para financiar isso. Mas o futuro dele depende do que descobriremos nos sigilos de 100 anos, do destrinchamento de esquemas de corrupção, dos desfechos do relatório da CPI da Covid, que identificou uma série de irregularidades na condução da pandemia, da confirmação das suspeitas em relação a ele e à família. Em havendo confirmação das denúncias de corrupção, ele sofrerá desgaste. Lembremos que grande parte da população não queria votar em Lula porque enxerga vínculos entre o PT e a corrupção. Eu fiz a ponderação de que, na CPI, vimos esquemas sendo arquitetados também pelo governo Bolsonaro. Como não estava confirmado, você perde a força do argumento. Mas isso é decisivo para uma parcela da população. Você tem uma parcela da população que não passa necessidade, que não passa fome. Uma classe média muito antenada com o que acontece no dia a dia da política e que de forma correta, a meu ver, não tolera corrupção.

A derrota de Bolsonaro interrompe o avanço da extrema direita?
Liderada por Bolsonaro, a extrema direita saiu do gueto, do anonimato, do discurso envergonhado das bolhas das redes, para, lamentavelmente, se expor à luz sem nenhuma vergonha dos absurdos e retrocessos civilizatórios que defende. São retrocessos que precisam ser combatidos diariamente por todos os partidos democráticos do Brasil. Teremos muito trabalho. Mas com moderação, equilíbrio e diálogo e sem um gabinete do ódio financiando fake news, não tenho dúvidas que conseguiremos diminuir o espaço que eles hoje ocupam. Precisamos lembrar os estragos desse movimento à sociedade brasileira.

Por que os bolsonaristas querem um golpe militar?
Há toda uma geração que nasceu pós-ditadura e não tem noção do que pede. Quando eles reivindicam a intervenção militar, não percebem que estão pedindo para viver num país onde qualquer um pode ser preso sem direito a habeas corpus, advogado ou a sair vivo da cadeia. Quando pedem intervenção militar, mal sabem que estão pedindo para não ter eleição para presidente da República ou liberdade de expressão. É um trabalho de reconstrução que, aliás, que não pode ser feito apenas pelo PT ou pela esquerda. Para dar legitimidade ao processo, esse trabalho tem que ser feito pelo campo democrático do centro.

Seria o caso, então, de Lula empoderar lideranças de centro no governo?
Os menos de 2 milhões de votos de diferença para Bolsonaro mostraram que quem ganhou as eleições não foi o PT, mas a figura de Lula, que é muito forte, aliada às lideranças que deram a cara de uma frente democrática. Quem ganha eleição com uma frente democrática só pode governar com ela. Não há preocupação de partidos aliados quanto à falta de espaço. E não é por fisiologismo ou toma lá, dá cá para votar projetos. É algo próprio das democracias modernas. Você chama quem tem identidade programática e deixa os demais fazendo oposição.

Como enxerga seu futuro político?
Quando saí candidata, o fiz por um projeto político e não eleitoral. Vi que o crescimento do extremismo, como ocorreu na Europa, foi fruto do enfraquecimento e esvaziamento de partidos de centro. O maior partido de centro do país é o MDB. Então, a sigla precisava construir uma ponte, por meio de uma candidatura à Presidência, para se fortalecer para as eleições de 2026 e 2030. Sabia que a chance de me eleger era ínfima, mas cumpri esse papel. Eu estava preparada para, depois de uma trajetória que começou na militância aos meus 16 anos, ficar quatro anos sem mandato ou quem sabe deixar esse meio. Mas, como me disse um economista, violei a lei da gravidade política. Quando você perde a eleição no primeiro turno, tende a sumir no segundo, a sair menor. Comigo, ocorreu o contrário. Estou em paz.

A senhora será candidata a presidente em 2026?
Dentro ou fora do governo, tenho vida partidária. Não vou parar de fazer política. Tenho uma responsabilidade não só com os meus 5 milhões de eleitores, mas com toda a população. Política não se faz com cargos. Se faz na rua. Não sei onde o destino vai me levar. Sei apenas que o compromisso que tenho com mulheres e famílias requer de mim posicionamentos.

Fonte: IstoÉ


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