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06/06/2022 às 20h00min - Atualizada em 06/06/2022 às 19h54min

Brasil que irá às urnas em outubro está mais identificado com ideias de esquerda, diz pesquisa

Tanto petista quanto atual presidente possuem fatia de apoiadores com ideologia oposta à que pregam

RTV Cris Sekeff - rtvcrissekeff.com.br
Os presidenciáveis Bolsonaro e Lula - Pedro Ladeira/Folhapress e Miguel Schincariol/AFP

A classificação ideológica do eleitorado do ex-presidente Luiz Inácio da Silva (PT), a partir dos critérios do Datafolha, mostra que 23% dos que querem votar nele são identificados com pensamentos de direita em comportamento e economia, embora a grande maioria (60%) esteja à esquerda.

Fenômeno semelhante ocorre com Jair Bolsonaro (PL), mas com sinais trocados. Apesar de o presidente de perfil conservador ter 54% dos eleitores situados à direita, segmento em que goza de apoio significativo, uma fatia de 29% se posiciona à esquerda no espectro ideológico.

A pesquisa do Datafolha, publicada no sábado (4), revelou que o Brasil que irá às urnas em outubro está mais identificado com ideias de esquerda do que cinco anos atrás, quando foi feito o levantamento anterior. O percentual atinge agora 49%, o maior da série histórica, iniciada em 2013.

A direita, por sua vez, registrou queda e alcançou seu menor resultado, 34%. Uma parte de 17% dos entrevistados se localiza ao centro. O questionário que serve de base para o mapeamento abrange perguntas no campo de comportamento e na área do pensamento econômico.

O instituto ouviu 2.556 pessoas acima dos 16 anos em 181 cidades de todo o país nos últimos dias 25 e 26. Contratado pela Folha, o levantamento está registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR-05166/2022 e possui margem de erro geral de 2 pontos percentuais, para mais ou menos.

A classificação ideológica é feita conforme a pontuação alcançada pelas respostas do entrevistado em questões sobre temas que separam as duas visões de mundo —como drogas, armas, criminalidade, migração, homossexualidade, leis trabalhistas, papel do Estado e impostos.

Considerando a avaliação mais ampla, com os critérios de comportamento e economia, Lula tem 4% de eleitores identificados com a direita e 19% com a centro-direita. Outros 18% estão ao centro, enquanto 36% se alinham com ideias de centro-esquerda e 23%, de esquerda. Os valores foram arredondados.

A retórica da campanha do petista acena à pluralidade, o que está traduzido no nome dado à coligação, "Vamos Juntos pelo Brasil". O plano é montar uma frente ampla em torno do PT, principal partido de esquerda no país. As seis siglas confirmadas na aliança até aqui pendem para a esquerda.

Já os cidadãos que declaram voto em Bolsonaro tendem, por óbvio, ao lado destro: 21% se posicionam à direita e 33% à centro-direita. Uma parcela de 17% aparece ao centro, enquanto 22% têm aproximação com ideias de centro-esquerda e 7% possuem perfil considerado de esquerda.

vilanização do campo oposto ao seu é uma das marcas da conduta do mandatário desde a campanha eleitoral de 2018, com ataques que se estenderam ao longo do governo e compõem a base do discurso de sua tentativa de reeleição. Lula lidera as intenções de voto com 48%, ante 27% do rival.

Terceiro colocado no Datafolha, com 7%, Ciro Gomes (PDT) tem seu eleitorado com característica semelhante ao do petista: 5% são identificados com a direita, 22% com a centro-direita, 16% com o centro, 33% com a centro-esquerda e 25% com a esquerda.

Quando observada a classificação dentro de cada um dos dois segmentos que formam o quadro, é possível notar que eleitores com voto declarado em Bolsonaro estão situados mais à direita no aspecto de valores do que nas convicções econômicas.

Enquanto em comportamento as posições de direita entre os bolsonaristas somam 62%, em economia elas correspondem a 33% do grupo.

Simpatizantes de Lula, por sua vez, têm uma distribuição mais igualitária nas duas vertentes que integram o levantamento. Em comportamento, 52% dos eleitores do petista estão alinhados com a esquerda e, em economia, são 56%.

Respostas dos seguidores de ambos os presidenciáveis às perguntas do levantamento explicam as variações.

Por exemplo: enquanto 79% dos entrevistados na média afirmam que a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade, entre apoiadores de Bolsonaro o índice cai a 67%. Dos eleitores do presidente, 24% acham que a homossexualidade deve ser desencorajada, ante 16% no público geral.

Na seara econômica, a verve de direita se comprova só em parte das respostas. A opinião de que a vida estará melhor quanto menos a pessoa depender do governo, de tom mais liberal, é aprovada por 71% dos eleitores de Bolsonaro, ante 58% na média geral.

Já a ideia de que é bom o governo atuar com força na economia para evitar abusos das empresas, típica da esquerda, é endossada por 54% dos bolsonaristas —a média é de 50%. E uma fatia de 40% acha que, quanto menos o governo atrapalhar a competição entre as empresas, melhor (44% no geral).

Os resultados dos eleitores de Bolsonaro nesse debate são até mais à esquerda do que os demonstrados por seguidores do ex-presidente. Entre os que escolhem votar no petista, 49% defendem a atuação mais vigorosa do governo, e 46% acreditam que o governo ajuda mais quando se mete menos.

Mesmo entre eleitores de Lula, há respostas bem menos progressistas do que o senso comum poderia supor. A parcela de apoiadores do petista que consideram que acreditar em Deus torna as pessoas melhores representa 78%, bem próxima dos 84% entre os de Bolsonaro (e à média de 79%)..

Para 61% do eleitorado lulista, adolescentes que cometem crimes (juridicamente, atos infracionais) devem ser punidos como adultos, e não reeducados. Embora seja posição majoritária (próxima à média de 65%), a parcela é inferior à registrada entre os eleitores do candidato adversário, de 75%.

Diferenças mais sensíveis também podem ser notadas, como na pergunta sobre Estado versus mercado.

Ala majoritária (81%) dos simpatizantes do ex-presidente acha que o governo deve ser o maior responsável por investir no país e fazer a economia crescer. Entre bolsonaristas, 57% pensam assim. Na contagem geral, a imagem do Estado como indutor do desenvolvimento é referendada por 72%.

O Datafolha cruzou ainda os índices de intenção de voto nos dois favoritos da corrida presidencial com a categorização por orientação ideológica. Como esperado, Lula dispara dentro do estrato localizado à esquerda, ao passo que Bolsonaro dobra de patamar no flanco da direita.

Os 48% de preferência que o petista alcança no cômputo geral viram 59% entre os eleitores identificados com a esquerda e recuam para 33% entre aqueles de direita. Os 27% de Bolsonaro no eleitorado médio se transformam em 43% se observada apenas a direita e mínguam para 16% na esquerda.

Sobre o postulante em que o entrevistado não votaria de jeito nenhum, nota-se que Lula é menos rejeitado pelo polo antagonista do que Bolsonaro. O ex-presidente, que na média é repelido por 33%, sofre rejeição de 51% na direita; o atual, recusado por 54% em geral, vai a 68% entre identificados com a esquerda.

As margens de erro nos recortes da pesquisa são superiores aos 2 pontos percentuais para mais ou para menos dos resultados gerais. Elas podem variar, por causa do tamanho das amostras, entre 3 e 7 pontos, mas o instituto diz que isso não afeta a compreensão de tendências.


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